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03 outubro, 2016

Eleições 2016: quem venceu foi o protesto

Artigo também publicado no Blog do Eliomar

E essas são as questões: alguém é eleito de qualquer maneira e quase sempre você se arrepende depois de votar.

Houve sim um grande vencedor no 1º turno das eleições deste ano. Não foi nenhum candidato, partido ou coligação. Foi o protesto.

A abstenção, somada aos os votos brancos e nulos, superou o 1º colocado em nove capitais do país. Fortaleza teve o maior índice de rejeição eleitoral neste século, com um em cada quatro eleitores protestando.
Em São Paulo, João Dória (PSDB) teve 3.085.187 votos. Somando abstenções (1.940.454), nulos (788.379) e brancos (367.471) chega-se a 3.096.304.

Em Belo Horizonte temos 741.831 de abstenções, brancos e nulos contra 710.797 da soma dos dois candidatos mais votados, João Leite (PSDB) e Kalil (PHS).
No Rio de Janeiro, o protesto foi ainda mais impressionante. Somente a abstenção chegou a 1.189.187 contra 1.395.625 da soma dos dois candidatos mais votados, Crivella, do PRB e Freixo, do Psol. Brancos, nulos e abstenções perfazem 1.846.621.

Em Fortaleza, somadas as abstenções (288.362), nulos (82.342) e brancos (35.443) temos 406.147 eleitores, número superior ao obtido pelo Capitão Wagner (PR), segundo candidato mais votado, que teve 400.802 e vai para o segundo turno com o atual prefeito Roberto Cláudio (PDT).

Em todas as capitais, o número de abstenções (eleitor apto a votar e que não compareceu às urnas) é muito superior ao voto nulo e voto em branco. A abstenção é um protesto diferente do voto nulo e do branco. É uma desobediência clara de quem vai contra o sistema,  pois o voto no Brasil continua obrigatório.

Há todo um esquema de pressão para que o eleitor vote. Desde a obrigatoriedade imposta pelo Estado, passando pela Propaganda Eleitoral Gratuita (que de gratuita não tem nada e está custando R$ 576 milhões aos cofres públicos em isenção de impostos), às campanhas milionárias dos candidatos e cretinices com o voto útil. A frase postada pelo dep. Eduardo Cunha, em seu perfil no Twitter no dia da eleição, é emblemática: “Alguém será eleito de qualquer maneura (sic) faça logo sua escolha para não se arrepender depois”. E essas são as questões: alguém é eleito de qualquer maneira e quase sempre você se arrepende depois de votar.

Há uma desilusão generalizada, mas também há revolta e indignação com a política partidária e a democracia representativa. O sujeito é eleito e, durante quatro anos, quem o elegeu não tem nenhum controle sobre o que ele faz.

No Legislativo, quase sempre você vota em um candidato e elege outro. Prova disso, é que dos 513 deputados do Congresso Nacional, só 38 foram eleitos com os próprios votos.
Em Fortaleza, o 5º candidato mais votado para vereador, Aílton Lopes (Psol), não foi eleito devido ao quociente eleitoral.

Em Jati, interior do Ceará, a prefeita eleita só precisava do próprio voto pois foi candidata única. Um bode, que a oposição lançou como candidato de protesto, foi abduzido antes das eleições.
Além destas “distorções”, continuam em vigor velhas práticas de corrupção, caixa 2, violência e assassinatos, compra de votos etc.

A Lei do Ficha Limpa se mostrou um tremendo fracasso e o volume de recursos gastos nas campanhas (até agora, R$ 2,131 bilhões), mostra que o dinheiro continua entrando a rodo.
O Brasil caminha para uma situação mais radical que a descrita no romance  “Ensaio sobre a lucidez”, do escritor português José Saramago. No livro, 70% da população vota em branco, instaurando uma crise em um país fictício. Aqui, milhões estão se abstendo do processo eleitoral na marra.

Está clara a falência da democracia representativa e deste modelo político partidário. Uma parte das pessoas que participaram do protesto nas eleições o fez por desilusão, de forma espontânea. Mas outra parcela se absteve devido a atividade de grupos, pessoas e organizações que buscam uma saída para a crise fora dos marcos da política tradicional.

Um destes grupos é o Crítica Radical, que há anos atua em Fortaleza e faz campanha pelo “Não Voto”. Em um dos documentos recém divulgados, eles convocam a população a construir um movimento cujos participantes “não querem mais ser representados por representantes que na verdade querem manter a população numa servidão voluntária ao sistema, seu estado, seus partidos, seus políticos e candidatos que na crise do limite interno e externo do capitalismo administram a barbárie e a extinção do planeta”.

Isso é loucura? Me parecem mais lúcidos do que aqueles que continuam a se prostrar frente aos velhos e carcomidos espantalhos da política, já abandonados por grande parte da população.

O Crítica Radical está convidando para uma reunião no próximo sábado, 08/10, na Faculdade de Arquitetura da UFC às 9h30. Em discussão, a construção deste movimento e de uma assembleia autônoma da população de Fortaleza. Eu vou.

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