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05 janeiro, 2012

Greve da PM: pequenas reflexões sem genuflexões

 Foto de Marília Camelo (Diário do Nordeste durante protesto dos educadores na Assembleia Legislativa do Ceará)
  1. Historicamente a PM, como outras partes do aparelho repressivo do Estado, foi e é usada contra trabalhadores em greve, ocupações legítimas de terras improdutivas, latifúndios, prédios e terrenos usados por especuladores etc. É usada contra todo tipo de manifestação que confronte o status quo desde estudantes que querem passe livre no transporte coletivo até manifestantes que pregaram o Fora FHC e Fora Lula. As brutais cenas de espancamento de educadores na Assembleia Legislativa do Ceará e o covarde assassinato do garoto Bruce Cristian ainda devem estar bem frescos na memória de muitos.
  2. A cultura da violência, da arbitrariedade e da impunidade é parte entranhada da vivência de muitos policiais, assim como o é a extorsão e a corrupção. Isso não significa que não existam policiais honestos que buscam agir corretamente, o que atualmente deve ser ainda mais difícil, dada a situação de crise e os chefes que os comandam.
  3. O problema da violência na sociedade hoje é estrutural. Não se resolve com PM, PC, PF, Exército e nem Marines. Só resolve mudando as relações sociais, acabando com o capitalismo. É claro que a coisa piora quando se vive em um estado e em uma cidade repleta de pobres e miseráveis e tomada pelo crack. Aí, qualquer um com um celular, uma carteira, um carro ou uma moto é um alvo 24 horas por dia. Ainda mais quando todos sabem que “uzomi” estão em greve.
  4. A greve da PM foi uma greve meramente corporativa. Em nenhum momento fez outro tipo qualquer de reivindicação senão aquelas de estrito interesse da categoria. Foi importante porque pôs o rei a nu. Mostrou o quão inepto, covarde e frágil é o atual governado(r). Fez clamar aos céus os editorialistas dos jornais, porta-vozes dos mandatários e de seus interesses. Disseram que isso é inaceitável e blablabla. Um deles inclusive começou citando o fim do mundo. Hilário. No dia 3, não foram só os pobres da periferia que foram assaltados. O deputado que praticava cooper na Praia de Iracema, crendo-se protegido pelo Exército, Força Nacional ou pelos céus, também teve sua cota. No dia 3, percebemos o quão frágil é a ordem estabelecida e como a barbárie é nossa vizinha de porta.
  5. A capacidade de rebelar-se dos PMs mostra que nem todos aceitam sempŕe cantar “marcha soldado cabeça de papel...”. Tenho esperanças de que, como a greve é uma escola, tenham aprendido outras canções, outros ritmos. Esperemos que nas greves de outras categorias, ao menos pensem antes de descer o porrete. Ordens são ordens. Mas, ordens injustas podem e devem ser desobedecidas.
  6. O comandante da PM, Werisleik Matias, buscou reduzir o problema à semântica, ao dicionário. Disse que no vocabulário da PM não havia a palavra greve. E agora? A uma hora dessas, ele deveria estar conjugando o verbo renunciar, assim como o governador e todo o resto. Isso, por um padrão imposto por eles mesmos. Ainda não tinha nascido em 1964, mas creio que exército nas ruas é coisa de ditador. Não só de mal administrador.
  7. As viúvas da didadura, os babões e oportunistas civis e militares, os midiotas e carreiristas de plantão, já encontraram um novo líder e salvador da pátria: o Capitão Wagner. Falam em elegê-lo deputado, prefeito e quem sabe governador. E, pelo que vi na mídia, o Capitão gosta. Não tem o passado triste do Tenente Cel. Horácio Gondim, esbirro da ditadura, ex-membro da récua de torturadores do DOI-CODI e candidato caricato. Mas, pelo que entendi, será mais um a usar a imagem do xerifão que vai moralizar tudo. Se isso continua e o mesmo for eleito, poderá ser ele a ter de se esconder e calar na próxima greve da PM, pois esta não foi a primeira e nem será a última. E com a intensificação da crise, haverá uma necessidade cada vez maior de manter a tropa sob disciplina férrea. E não esqueçamos que os policiais civis continuam sua paralisação.
  8. A esquerdalha, quando não deu mais para dissimular, assumiu seu papel. O “porta-voz” das favelas disse que será necessário uns bifes de carne de soldado para que a PM recupere a “credibilidade e a confiança”. A central sindical pelega ofereceu-se para mediar as negociações quando a greve já estava acabando. O deputado governista, governoso e cambebista juramentado disse que o governador não merecia passar por isso e que a greve teve interesse político: havia um suplente de deputado envolvido.
  9. Enfim, esperemos (e lutemos) para que nem tudo continue como dantes no quartel de abrantes.

    1 comentários:

    Klycia Fontenele disse...

    Professores quando paralisam, paralisam tudo. Não são considerados serviços essenciais, não é? rs Policiais militares e bombeiros não podem fazer greve, eles caem na insubordinação à hierarquia...

    Então, este é o primeiro ponto que me fez apoiar os milicas (embora tenha abuso das fardas e saiba que elas existem para garantir um status quo). Eles foram insubordinados, não apenas aos chefes deles mas a todo um sistema.

    E eles não foram sozinhos: suas famílias estavam lá; outras categorias também... Além disso, a população não é boba, ficou do lado deles. Mesmo com o clima de insegurança, sabiam serem justas as reivindicações. Já tinham visto também o massacre sofrido pelos professores, não só pelo autoritarismo do governo, mas também por um sindicato pelego...

    Vi minha prima que é professora indo para o quartel apoiar os policiais... Assim, só posso pensar que alguma coisa está fora da ordem. Que bom!!! A ordem imposta por uma elite é uma ordem cruel, que nos massacra todos os dias...

    Soube de um comentário do chefão do exército que dizia que a segurança estava garantida, mas a população não a sentia, havia um corte simbólico na paralisação dos homens de farda...

    A greve foi curta (seis dias se não me engano) e mesmo assim mostrou que nossas desigualdades sociais gritam todos os dias... Por isso, é necessário segurança armada para conter aqueles que pouco têm do bolo da riqueza produzida por todos nós...

    Fiquei com medo ontem quando estava no Centro, mas entendi que isso era necessário, que meu medo extrapolava a greve porque ele vinha da consciência de viver em um mundo desigual.

    Ontem, vibrei com a conquista dos policiais, senti como uma conquista minha também... Agora, estou atenta aos policiais civis (que demoraram a aderir e agora estão sozinhos... E esse sozinho é estratégia de um sistema que nos divide quando somos todos trabalhadores... muito ainda a fazer...).

    Então, vibro com o que aconteceu. Quero um mundo de igualdade, longe desse sistema. Quanto à democracia, (a representativa midiática que é a nossa) ela é uma falácia. Não creio em democracia com disparidades sociais tão gritantes...

    bj
    Klycia

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